sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Música

A música me leva como um mar amargo!
À meu pálido astro,
Sob um teto de bruma ou por éter largo,
Iço a vela ao mastro;

O peito para a frente e os pulmões já inflados
Tal qual uma tela
Subo o dorso dos vagalhões amontoados,
Que a noite me vela;

Sinto vibrar em mim o torpel de paixões
De uma nave sofrendo;
O bom vento, a tormenta e suas convulsões

Sobre o abismo horrendo
Me embalam. Outra vez na calma ela é o reflexo
De meu ser perplexo

Charles Baudelaire em As flores do mal